terça-feira, 26 de maio de 2009

Bossa Humana



De que são feitas as pessoas? Por que não são todas iguais, niveladas por cima?
Às vezes me vejo fazendo comparações estranhas. Penso, por exemplo, na música – sempre ela! – composta, na base, por apenas sete notas. Sons completamente distintos que, tocados um após o outro, se percebem únicos.
Todavia, quando as unimos em uma só peça, as notas deixam de ser apenas notas. Tornam-se acordes.
Se tocadas numa sequência lógica, formam escalas. Maiores, menores, cromáticas, pentatônicas, exóticas, diminutas, blues... São tantas!
Assim, pois, vejo as pessoas. Isoladas, sozinhas, são exclusivas. Emitem o seu próprio som, e nos revelam suas particularidades.
Mas, coloquemo-nas juntas. Formam um caleidoscópio brutal. Nem sempre harmônico. Aliás, quase nunca. Mas sempre sensível e interessante de ouvir.
Se as pessoas funcionam assim? Nem sempre. Às vezes sim, por um tempo, após o que, se desgastam. Assim é com a maioria.
Ressalvemos os casos mais raros, nos quais a união de pessoas soa como as notas musicais: eternas. Quem não já desejou que assim fosse? Longe das distorções, das dissonâncias. Afinados!
Mas só a música, meu caro, tem que soar dessa forma sempre. As pessoas, não. Acordes perfeitos são raros entre elas. A maioria desafina. Nem que seja de forma discreta e quase imperceptível, ali quase sempre tem uma nota atravessada.
A isso, na música, deram o nome de Bossa Nova.
Na vida, porém, há muito, muito mais tempo, alguém decidiu dar a tais “notas”, atravessadas e confusas, um outro nome: Humanidade.

Escrito por Sérgio Montenegro

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