terça-feira, 26 de maio de 2009

Psicodelírio

Rasante à noite.

Não há banda

Não há marcha

Sem escalas

Na calada.

Na calada noite

Diz-me o escuro

De fora

Raiar

E

Luzir

a

Dentro.

II

Canto do corvo

Sapiado

Já há madrugada!

__trilha de orquídeas

E o chão tremula

Roxo na volta

Pra casa

Passarada

Aziaga.

Bate estaca

À porta

E as solas

Funk

Ups

Cluber’s

Caldas

De

Tech-rai-kais.

III

A dança

Cheira

Á flor

Que

Engendra...

Transe-furor.

IV

Uma árvore

pisca

Psi

Psi

Psiu.

Psico...

Psico...

Psic...

De frouxo

Caule

folhas

Diáfanas...

Heis

Que dança

O homem!

Como

Se lhe

haja

só o vento

___sem

Tempo.


Autora:Vanuza Soares

Bossa Humana



De que são feitas as pessoas? Por que não são todas iguais, niveladas por cima?
Às vezes me vejo fazendo comparações estranhas. Penso, por exemplo, na música – sempre ela! – composta, na base, por apenas sete notas. Sons completamente distintos que, tocados um após o outro, se percebem únicos.
Todavia, quando as unimos em uma só peça, as notas deixam de ser apenas notas. Tornam-se acordes.
Se tocadas numa sequência lógica, formam escalas. Maiores, menores, cromáticas, pentatônicas, exóticas, diminutas, blues... São tantas!
Assim, pois, vejo as pessoas. Isoladas, sozinhas, são exclusivas. Emitem o seu próprio som, e nos revelam suas particularidades.
Mas, coloquemo-nas juntas. Formam um caleidoscópio brutal. Nem sempre harmônico. Aliás, quase nunca. Mas sempre sensível e interessante de ouvir.
Se as pessoas funcionam assim? Nem sempre. Às vezes sim, por um tempo, após o que, se desgastam. Assim é com a maioria.
Ressalvemos os casos mais raros, nos quais a união de pessoas soa como as notas musicais: eternas. Quem não já desejou que assim fosse? Longe das distorções, das dissonâncias. Afinados!
Mas só a música, meu caro, tem que soar dessa forma sempre. As pessoas, não. Acordes perfeitos são raros entre elas. A maioria desafina. Nem que seja de forma discreta e quase imperceptível, ali quase sempre tem uma nota atravessada.
A isso, na música, deram o nome de Bossa Nova.
Na vida, porém, há muito, muito mais tempo, alguém decidiu dar a tais “notas”, atravessadas e confusas, um outro nome: Humanidade.

Escrito por Sérgio Montenegro

segunda-feira, 25 de maio de 2009

País do futebol, do carnaval e da pouca leitura


Epígrafe

Perguntaram para o Quintana o que acontece com os pais?

E ele respondeu categoricamente: - Competia aos pais dessas crianças, não a nós, incuti-lhes o hábito da leitura das boas leituras. Ora essa! Mas se eles também não lêem... Vivem eternamente barbiturizados pelas novelas da Televisão.


Não bastam gráficos elaborados pela Unesco ou estudos de entidades ligadas à educação para explicar a falta de gosto pela leitura do povo brasileiro. A inquietante pergunta sobre o futuro do livro no Brasil está intrinsecamente ligada à apatia (ou preguiça) do cidadão. Esta conclusão pode até parecer uma “viagem na maionese”, ou exagero, mas, se de fato o livro é essencial para compreender o mundo, por que o brasileiro insiste em dizer: “pra quê lê se posso me informar assistindo televisão?”.

Observa-se uma mudança significativa no perfil do brasileiro na busca de novas fontes informativas. Os hábitos de absorção de informação tomaram um outro rumo com o avanço das novas mídias. O jornal, por exemplo, não é mais considerado um veículo de massa, é um formador de opinião de uma pequena parcela, lido hoje por menos de 5% da população brasileira. Atualmente, em todo o mundo, a população de faixa etária dos 18 aos 34 anos dedica mais tempo à internet do que para ver televisão. Já para a leitura-lazer houve um decréscimo, que se converte numa crise sem precedentes do mercado editorial e numa sociedade sem senso crítico.

Dentro do campo educacional observa-se que o desinteresse pela leitura no Brasil foi reforçado pela ditadura militar, que sucateou o ensino público e o deixou em estado lastimável, retirando da pasta da educação e da cultura investimentos que poderiam diminuir as mazelas sociais do país. Isso gerou uma agravante: empobrecimento da classe média e a conseqüente crise que estagnou a cultura.

Há, hoje, mais perguntas do que respostas quanto ao futuro do livro não só Brasil, mas em todo o mundo. Essa acalorada polêmica foi deflagrada por um poeta brasileiro que denominou o período atual como o “pós-tudo”, ou o “fim de tudo”. Segundo ele, estaríamos vivendo o fim do homem, o fim da utopia, o fim da ideologia, o fim do Estado nacional, para não dizer o fim do mundo.

O desaparecimento do gosto pela leitura na verdade, que tanto preocupa nossos intelectuais, é um sintoma da crise da cultura. Então, quer dizer que não é o livro que está em crise e sim, a cultura. A modernidade e os valores mercantis associados ao lucro e ao utilitarismo trazem uma ameaça à diversidade cultural e no paralelo aceleram a generalização da cultura de massa.

Toda essa parafernália tecnológica como proliferadora da diversidade cultural e lingüística traz à tona um questionamento: será que as novas mídias contribuíram para a democratização da cultura ou, ao contrário, ajudaram na formação de novas elites? E o livro, será convertido em objeto de luxo para colecionadores alimentando somente o senso crítico das classes abastadas?

Até então, a generalização de técnicas de informação, principalmente por meio da principal mediadora – a internet, nada provou como substituta do livro. A brevitude e a multiplicidade das informações transmitidas pouco têm a oferecer quanto depositório do passado universal. Nunca é tarde, porém, para pensar na leitura sob um foco mais universal, quando a prioridade é conhecer o mundo em toda sua profundidade.

Realidade espantosa

No Tocantins, por exemplo, a falta de hábito pela leitura está atrelada à proliferação de livros desestimulantes; da pouca influência dos pais; e da escola no período inicial do jovem leitor. O leitor tocantinense adulto procura, principalmente, por livro de auto-ajuda ou auto-negação, bordão que muitos intelectuais utilizam para designar este segmento. Já os jovens na faixa etária de 13 a 20 anos preferem obras de ficção como: contos vampirescos, best sellers e livros fora do tempo, pra não dizer fora da realidade.

Em Gurupi a crise da leitura está relacionada à baixa renda da população e a falta de hábito, conforme explica Alexsandra Gomes, gerente de vendas da Gep Livraria. “Numa cidade de quase 75 mil habitantes, isso envergonha pelo fato de ter apenas uma livraria e mesmo assim a demanda ser muito pequena”, explica. Um agravante que não pode ser esquecido é o preço do livro. Alto, para os padrões sócio-econômicos do brasileiro.

No País há pouco incentivo à cultura por parte dos poderes públicos. Os livros chegam sempre em edições limitadas, o que ajuda a torná-los mais caros no mercado nacional. Segundo dados do IBGE, no Tocantins 60,96% da população vivem muito mal. A renda média do chefe do domicílio tocantinense é inferior a média brasileira. Aqui a renda média corresponde a 2,15 salários, ou seja, R$ 950,00, enquanto a média nacional é de 3,42, ou seja de R$1.299,60. A distribuição de renda é tão díspare, que se levarem em consideração os habitantes que ganham até dois salários mais os que não tem nenhuma renda fixa somam-se 705.366.94 dos habitantes do Estado. Para tanto, não é à toa que os gastos com bens culturais aqui são considerados luxo.

O número de livrarias no Brasil é muito pequeno em comparação com países como EUA e Argentina. Segundo dados da Fundação Biblioteca Nacional, no Brasil tem 2.767 livrarias. Proporcionalmente seriam 70 mil leitores para cada livraria no País. Para se ter uma noção histórica do tamanho do atraso, nos EUA, no século XVII, já havia oito universidades e várias livrarias espalhadas pelo país. Enquanto no Brasil, nesse mesmo período, a taxa de analfabetismo era de mais de 90% da população. Nem mesmo a imprensa havia se consolidado, vindo surgir dois séculos depois.

Diante dessa realidade, por que não começar a agregar leitores por meio de atitudes que enfatizem a cultura local, partindo da premissa que a educação começa em casa e que o gosto pela leitura também é influenciado notadamente pelos pais?

Enquanto a educação não for levada a sério e as mídias não contribuírem no papel de formação crítica, desabafos como esse vão prevalecer por muito tempo: “Para ser franco o livro em nossa cidade é considerado um bem supérfluo”, afirma Fabiano Donato, professor do Curso de Letras do Centro Universitário Unirg.

Bastidores do 5º Salão do Livro

Considerado o maior evento literário da região Norte e Nordeste, o Salão do Livro serve como modelo quando se trata de organização e conforto. Sua estrutura foi grandiosa e colossal, oferecendo uma vasta programação cultural ao gosto de todos os públicos. Foram dez dias de atividades e atrações, movimentando mais de seis milhões de reais. Isso considerando apenas a circulação das verbas distribuídas às redes regionais de ensino e aos profissionais da educação.

Mas será que com apenas um evento literário a educação do Estado pode ser consagrada com nota 10, como o próprio governador atribuiu? Sustentado pela hipótese de que a educação no Tocantins vai bem, o governado acabou por esquecer que o Estado apresentou índices vergonhosos nos exames do MEC. Sem se esquecer que o evento caiu como uma “luva” para desviar a atenção das “maracutaias” em que envolve a sua administração.

O evento serviu também como espaço para negociata entre os gestores e os expositores. Isso mesmo. A corrupção está tomando até os profissionais responsáveis pela educação dos futuros cidadãos. A verba destinada às escolas para compra de livros, tornou-se “moeda de troca” na obtenção de interesses particulares. Segundo uma das expositoras que não quis se identificar, “era comum gestores oferecem a compra total no estande em troca de dinheiro, note book e outras parafernálias”.

Ironicamente um evento de alguns dias, por mais grandioso que seja, não efetiva e nem substitui os planos de educação de 365 dias. Um evento como esse não é capaz de suprir as necessidades e tampar as lacunas da educação. Infelizmente há uma grande parcela de habitantes no Estado que vive em condições indignas e que mal tem dinheiro para a sobrevivência. Para estas pessoas, livro é luxo e não dá para gastar dinheiro com eles. Esta é a dura realidade omitida pelo governo.

Por fim, não está em pauta desmerecer o valor do Salão do Livro, reconhecidamente vital para aquecer o mercado editorial. Mas para educação o evento pouco tem a somar. O salão do livro é um evento classista. Atende uma demanda pequena. A educação do dia-a-dia (investimentos na formação de professores, subsídios e ferramentas para tornar as aulas mais atrativas, aquisição de material pedagógico, acompanhamento psicológico etc.) e que deveria ser encarada pelos administradores, continua ainda no papel e mortificada em livros de intelectuais da educação como Paulo Freire.




Escrito por Vinícius Reis